CID-11 e DSM-5: Ferramentas de classificação da saúde mental (CID-11: 6B00-6B0Z).
A Classificação Internacional de Doenças (CID-11) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) são os dois pilares globais que fornecem a linguagem padronizada para a saúde mental.
A CID-11, de caráter internacional e estatístico, é essencial para o registro global de todas as doenças, incluindo os Transtornos Relacionados à Ansiedade ou ao Medo (códigos 6B00 a 6B0Z).
Ambos os manuais são utilizados pelos profissionais para diferenciar a ansiedade normal de um transtorno crônico e direcionar o tratamento adequado.
O corpo humano tem uma forma peculiar de nos alertar sobre o perigo, e é justamente essa resposta que chamamos de ansiedade — uma companheira que nos impulsiona à ação e à autoproteção.
No entanto, quando essa vigilância se torna excessiva, persistente, e começa a roubar a nossa paz, ela cruza a linha tênue do que é adaptativo.
Ela se instala como um transtorno de ansiedade. A vida deixa de ser vivida no presente e se transforma em uma preocupação constante com o futuro.
A ansiedade vira transtorno? Sintomas que exigem atenção
Quando o medo se torna crônico, ele exige uma compreensão profunda.
A principal manifestação do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é a preocupação incessante e difícil de dominar.
Essa preocupação se alonga por meses, desgastando o corpo com fadiga e perturbações do sono.
É uma preocupação que se cola à vida e a todos os seus aspectos, afetando diretamente a sua funcionalidade.
Sintomas que Caracterizam o Transtorno de Ansiedade:
- Preocupação excessiva: Sobre tudo, persistindo por meses.
- Inquietação ou sensação de estar no limite.
- Fadiga: Cansaço persistente e sem motivo claro.
- Dificuldade de concentração: Mente em branco ou desfocada.
- Irritabilidade: Reações exageradas a pequenos gatilhos.
- Tensão muscular: Ombros e pescoço constantemente travados.
- Sono perturbado: Insônia ou acordar cansado.
Qual é o seu tipo de ansiedade? Compare as classificações
A primeira etapa do acolhimento é nomear o sofrimento. As classificações internacionais não são meros rótulos, mas ferramentas éticas para diferenciar as manifestações da ansiedade.
A CID-11 e o DSM-5 fornecem nomes para o medo que aprisiona.
Tipos de Transtornos de Ansiedade (CID-11 e DSM-5):
- Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): Preocupação crônica e constante com tudo. Exemplo: A preocupação "E se eu perder o emprego?" surge todos os dias.
- Transtorno de Pânico: Crises súbitas e inesperadas de medo intenso. Exemplo: Coração dispara, acompanhado pelo pavor avassalador de morrer.
- Agorafobia: Medo de estar em situações onde seria difícil escapar ou receber ajuda. Exemplo: Evita ônibus, shoppings ou sair de casa sozinho.
- Fobia específica: Medo desproporcional a uma única coisa ou situação. Exemplo: Aranhas, altura, avião ou injeções.
- Ansiedade social: Medo significativo de ser julgado ou avaliado negativamente. Exemplo: Fica mudo em reuniões ou evita interações sociais.
O tecido das causas: Fios biológicos e históricos
É um equívoco simplista buscar uma causa única para o transtorno de ansiedade. Ele não é uma falha moral, mas um sintoma que emerge da intrincada teia entre nossa biologia e a nossa história de vida.
Sabemos, pela ciência, que a predisposição genética aumenta a vulnerabilidade.
Alterações em neurotransmissores, como a serotonina e o GABA, desempenham um papel na forma como o nosso cérebro processa o medo.
A amígdala, nossa central de alarme, pode estar em um estado de hiperatividade constante.
Entretanto, o ambiente é a mão que muitas vezes aciona o gatilho. Vivências traumáticas, como perdas, abusos ou acidentes, desorganizam a capacidade psíquica de lidar com o estresse.
O estresse crônico, seja no âmbito profissional ou afetivo, sobrecarrega o nosso sistema de defesa, levando à manifestação dos sintomas.
Se a sua angústia tem se manifestado de forma persistente, iniciar um processo de análise pode ser o caminho para compreender o que está em jogo.
O caminho do tratamento: Devolver a palavra e o sentido
A boa notícia é que, com o diagnóstico e o cuidado adequados, os transtornos de ansiedade são, sim, tratáveis. A reconquista do controle sobre a própria vida é uma realidade.
O tratamento, em sua forma mais integrada e humana, combina a escuta da psicoterapia com o apoio, quando necessário, da farmacoterapia.
A Psicanálise, por exemplo, não se detém apenas na extinção dos sintomas, mas busca o sentido por trás deles. O que a ansiedade está tentando me dizer? Que desejo ou medo está silenciado?
É no espaço da palavra que a dor se transforma em narrativa, permitindo que a angústia seja metabolizada e compreendida em sua origem.
Outras abordagens, como a TCC, auxiliam o indivíduo a flexibilizar os pensamentos disfuncionais que sustentam o medo.
Paralelamente, a farmacoterapia, prescrita e monitorada por um psiquiatra, é um suporte valioso.
A gestão do cuidado passa pelo estilo de vida: a atenção ao sono, a prática de atividades físicas e a manutenção de laços sociais fortes.
A ansiedade raramente caminha sozinha. É comum que ela coexista com a depressão ou com transtornos por uso de substâncias, o que sublinha a necessidade de um olhar clínico que seja integrado.
É no reconhecimento desse quadro que reside a força para a transformação.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5). 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Classificação internacional de doenças (CID-11). Disponível em: https://icd.who.int/en.
Photo by İbrahim Halil Ölmez: https://www.pexels.com/photo/woman-in-emotional-distress-holding-head-29965352/