(CID-11: QD85) Burnout é grito por socorro mas muitos se calam

Quatro estratégias Cognitivo-Comportamentais para o Legado da Sobrecarga

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21/10/2025 às 04:43, atualizado em 21/10/2025 às 04:44

Tempo de leitura: 4m

1. Introdução: O Burnout no Contexto Clínico

O quadro de esgotamento extremo, codificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como QD85 (Fenômeno Ocupacional), não irrompe de forma súbita. O Burnout é a culminação de um sistema que se assemelha à formação de um furacão.

É fundamental pontuar sua classificação: na CID-10, o Burnout era descrito de forma vaga como Z73.0 (Esgotamento ou Estado de Exaustão Vital). Com a CID-11, o quadro ganha clareza com o código QD85, sendo definido como uma síndrome resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. Embora o DSM-5 e o DSM-5-TR não o incluam como transtorno psiquiátrico formal, o colapso frequentemente leva a diagnósticos associados como Transtorno de Ajustamento.

O Burnout se assemelha à formação de um furacão. A sobrecarga atua como a área de baixa pressão que se intensifica, mantida pela ilusão de estabilidade. Quando o limite máximo é atingido, o sistema entra em colapso, alcançando a Categoria 5 da falência completa.

2. O Cenário Pós-Colapso e as Sequelas

A calma aparente (a ausência do esgotamento agudo) não significa que o desastre acabou. É o que se vê no olho do furacão, um centro de repouso cercado pela força destrutiva das consequências.

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O que se quebrou foi a estrutura que sustentava a vida. A recuperação é lenta, mas totalmente alcançável. A pressa em retomar o controle (o motor da patologia) é o principal risco que deve ser evitado para garantir a sustentabilidade da melhora.

  • O Legado da Patologia: O indivíduo opera em um terreno que será reconstruído. A experiência traumática do colapso pode configurar um quadro de Trauma Pós-Traumático ou de Transtorno de Ajustamento (conforme o DSM-5), o que dita regras através dos hábitos de desconfiança e evitação. A desconfiança é a vigilância constante, o que dificulta a colaboração. A evitação é a fuga de situações que remetem ao estresse, mantendo o isolamento como uma defesa rígida.

3. O Processo Psicoterapêutico: Reconstrução pela TCC

A TCC oferece um caminho metódico para lidar com as consequências do Burnout, ancorado na reestruturação cognitiva e no engajamento gradual. O foco é na capacidade do indivíduo de reconstruir e florescer:

  1. Análise do Custo: Examinar a rota do furacão, identificando como a pressa e o controle formaram a tempestade. Isso abre espaço para novas crenças mais flexíveis e saudáveis.
  2. Desmontagem da Evitação: Utilizar técnicas de exposição gradual para desafiar os hábitos de desconfiança e evitação, provando, passo a passo, que a colaboração e a imperfeição são seguras. O trabalho é reabilitar as pontes de contato com o mundo com sucesso.
  3. Disciplina da Manutenção: O foco migra da performance para a sustentabilidade. A pessoa deve internalizar que a conclusão bem-sucedida do processo resultará em uma liberdade duradoura. A reconstrução exige paciência, mas leva a um resultado muito superior ao sistema anterior.

    Conclusão

    O Burnout, em sua essência, é um grito de socorro que o sistema, esgotado pela sobrecarga e pela rigidez, não conseguiu verbalizar a tempo. A superação é uma prova de resistência que resulta em um crescimento profundo, mas exige que o indivíduo rompa o silêncio da autossuficiência.

    A força não reside na urgência de se declarar apto, mas na aceitação da lentidão do processo como a chave para uma vida mais equilibrada. Os quatro passos da TCC (Análise do Custo, Desmontagem da Evitação, e a Disciplina da Manutenção) formam a fundação para construir uma resiliência inabalável e evitar a repetição do colapso. O foco na disciplina de manutenção, e não na performance, é a única forma de garantir que o sistema não volte a se calar sob pressão.

Referências

Referências Bibliográficas

 

  1. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5-TR). 5th ed. Text Revision. Arlington: American Psychiatric Publishing, 2022.
  2. BECK, Aaron T. Terapia Cognitiva da Depressão. Porto Alegre: Artmed, 1997.
  3. KNAPP, Paulo (Org.). Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática Clínica. Porto Alegre: Artmed, 2004.
  4. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). International Classification of Diseases 11th Revision (ICD-11). Geneva: WHO, 2019.

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