O corpo humano tem uma forma peculiar de nos alertar sobre o que é essencial, e poucas coisas ativam essa central de alarme e recompensa de forma tão intensa quanto o amor. Para mim, o amor é, fundamentalmente um convite à vulnerabilidade. É o estado complexo que exige de nós não apenas a entrega química da paixão, mas a coragem de tolerar o desconhecido no outro e em nós mesmos. É nesse espaço de incerteza que a insegurança se manifesta, como um sintoma da nossa dificuldade em aceitar a autonomia do ser amado.
A ciência desvenda a estrutura do laço e a raiz da insegurança
A neurociência mostra que o amor, em sua fase de Apego (Vínculo), é sustentado pela ocitocina e pela vasopressina (Fisher, 2016). Essa química demonstra que o amor tem a função biológica de promover a segurança e a sobrevivência .
No entanto, a insegurança surge quando essa segurança biológica é posta à prova pela independência do outro. Ela está ligada à forma como nosso cérebro processa o medo da perda e do abandono.
- Insegurança e Medo da Perda: A insegurança é a manifestação da nossa dificuldade em confiar na permanência do vínculo sem o nosso controle ativo. Ela dispara o sistema de alerta, levando à necessidade de vigilância, checagem e controle do parceiro.
- A Vulnerabilidade do Vínculo: A insegurança nasce da consciência de que, embora o vínculo seja profundo, ele é voluntário e o outro tem a liberdade de partir, o que nos remete à nossa solidão existencial.
O amor maduro: Escolha, imperfeição e o manejo da insegurança
A filosofia nos lembra que o amor maduro é uma escolha consciente que se renova diariamente. O amor envolve tolerar a queda da fantasia de que o outro é a nossa "metade perfeita".
A insegurança age como um parasita nessa fase, pois ela alimenta a crença de que, se formos imperfeitos ou se o parceiro não se encaixar em nosso ideal, o amor desaparecerá.
- Insegurança e Idealização: A insegurança frequentemente nos leva a idealizar excessivamente o parceiro ou a relação. Quando a realidade da alteridade e da falibilidade do outro aparece, a fantasia desmorona, e o medo da perda é intensificado.
- O Antídoto: O antídoto para a insegurança não é o controle, mas o desenvolvimento da autoestima e da confiança em nossa capacidade de estar bem mesmo sem a validação constante do parceiro. O amor passa a ser menos sobre possuir (o que a insegurança exige) e mais sobre compartilhar o caminho sem anular a individualidade.
O amor saudável é aquele que permite que a angústia da separação e da incompletude exista sem desmantelar o laço.
O convite à vulnerabilidade e o sentido do limite
O amor nos expõe à nossa máxima fragilidade. A capacidade de amar exige a coragem de ser vulnerável: de se mostrar, de confiar e de reconhecer a possibilidade da perda.
Quando a insegurança domina, ela tenta eliminar o risco do amor através da dependência emocional. Nesse caso, o parceiro é amado por sua função (suprir nosso vazio) e não por quem ele é, o que anula a autonomia de ambos.
A reflexão final reside em se perguntar: Esta insegurança reflete uma ameaça real no laço, ou ela é um sintoma da minha dificuldade em tolerar a minha própria incompletude e o risco inerente a qualquer relação?
A resposta a essa pergunta é o melhor guia para um relacionamento autêntico e funcional, onde o amor se constrói na aceitação da insegurança, e não na sua negação.
Se a sua angústia tem se manifestado de forma persistente, iniciar um processo de análise pode ser o caminho para compreender o que está em jogo.
BECK, Aaron T. et al. Anxiety disorders and phobias: A cognitive perspective. New York: Basic Books, 1985.
FISHER, Helen. Anatomy of Love: A Natural History of Mating, Marriage, and Why We Stray. New York: W. W. Norton & Company, 2016.
LEDOUX, J. Anxious: Using the brain to understand and treat fear and anxiety. New York: Penguin, 2015.